A palavra bruxa, em sânscrito, significa mulher sábia - e assim elas eram vistas até serem inferiorizadas e marginalizadas pela Igreja Católica. Desde então, bastava que uma mulher casada perdesse a hora de acordar para que o marido pudesse acusá-la de estar sonhando com o demônio.
O estereótipo de uma bruxa - velha, de nariz comprido e com verrugas, cabelos desgrenhados, gargalhadas estridentes e chapéu pontudo - surgiu durante a Idade Média e permaneceu praticamente inalterado até os dias de hoje.
Por definição, uma bruxa é um indivíduo com poderes sobrenaturais de origem variada capaz de ferir ou curar com ervas mágicas e controlar o tempo, além de lançar feitiços, transformar objetos do cotidiano em animais e voar em vassouras - atividades que tem sido historicamente associadas à bruxaria há centenas de anos.
Circe, a belíssima feiticeira da mitologia grega, transformava homens em animais, fazia florestas se moverem e o dia virar noite. Homero (na Odisseia), Hesíodo, Ovídio e Plutarco relataram suas proezas. Em Harry Potter, sua biografia aparece em uma das figurinhas dos Sapos de Chocolate.
Em toda civilização - desde a Assíria, Babilônia e Egito até as aldeias da Europa medieval e tribos contemporâneas da África central e meridional - havia algum tipo de bruxa. Ilustrações em paredes de cavernas do período neolítico mostram celebrações de rituais simbólicos à fertilidade. Na Grã-Bretanha, as sacerdotisas druidas eram divididas em três classes: as que viviam em regime celibatário, de ordem mais elevada, e as que podiam constituir família e viver tanto nos templos quanto com seus maridos.
A antiga literatura greco-romana é rica em histórias de bruxas que preparavam poções mágicas com ervas e pedaços repugnantes de animais. Com os cabelos longos e desgrenhados, andavam descalças e, de acordo com a crença popular, eram vistas em cemitérios desenterrando ossos à meia-noite, colhendo plantas venenosas ou então adorando Diana (Ártemis para os gregos, deusa da lua e da caça) e Hécate (Trívia para os romanos, deusa da fertilidade e rainha da noite); dizia-se que algumas eram capazes de conjurar espíritos e matar com um simples olhar. As bruxas de Tessália (região norte da Grécia) eram tão poderosas que podiam aproximar a Lua da Terra. Apuleio, poeta romano do século II, descreveu-as como "capazes de fazer o céu cair, as nascentes secarem e destruir montanhas".
• As bruxas depois da Idade Média
As três bruxas de Macbeth, de William Shakespeare
Durante o pânico da caça às bruxas, entre os séculos XVI e XVII, as curandeiras das aldeias - que tinham conhecimento sobre ervas medicinais, faziam amuletos contra espíritos malignos e usavam poderes de adivinhação para encontrar objetos perdidos e identificar criminosos - foram as primeiras e principais acusadas.
Havia quem ainda acreditasse que essas mulheres podiam realizar feitos benéficos, como invocar a chuva e tornar os ventos favoráveis à navegação. Mas se antes elas eram respeitadas e temidas, agora respondiam por mortes súbitas de bebês e más colheitas.
The Witches' Sabbath, de Francisco Goya
De acordo com a crença, participavam de rituais macabros de assassinato, vampirismo e canibalismo e se reuniam regularmente em sabbaths (ou sabás, encontros noturnos em florestas ou campos isolados com danças e banquetes em culto a Satanás). sendo que chegavam até eles voando em vassouras ou no lombo de algum demônio tido como familiar.
Um familiar era um demônio sob a forma de um pequeno animal. Cada bruxa tinha ao menos um familiar que lhe dava conselhos e estava sempre à disposição para executar algum serviço maligno. Geralmente eram gatos, cachorros, sapos, coelhos ou corvos, mas também podiam ser porcos-espinho, fuinhas, furões, toupeiras, camundongos, abelhas ou gafanhotos. Tendo-os recebido diretamente do Diabo, eram gentis com eles e batizavam-nos com nomes engraçados; um trabalho bem feito era recompensado com algumas gotas de sangue da dona. Quando a bruxa era levada a julgamento, o familiar quase sempre escapava e poucos foram executados.
Segundo o Malleus Maleficarum, voar era um dom incontestável. O livro dizia que elas saíam pela chaminé de suas casas, mas que podiam ser lançadas ao chão ou impedidas de decolar pelo som dos sinos de uma igreja. No início do século XVII, a população de uma pequena cidade da Alemanha estava tão apavorada que, por algum tempo, o conselho municipal determinou que todas as igrejas batesse seus sinos sem parar, do anoitecer até o raiar do dia.
Enquanto alguns sábios e autoridades debatiam a ideia relembrando o Evangelho Segundo de São Mateus, que conta como Satã transportou Jesus pelos ares (logo, era perfeitamente possível que conferisse este dom às suas servas), outros mais sensatos rejeitavam que algo fisicamente mais pesado do que o ar pudesse voar e atribuíam a delírios da cabeça das mulheres as confissões de magníficos vôos noturnos.
Ao final da Idade Média, quando a bruxaria havia se tornado um problema sério na Europa, uma mulher poderosa e capaz de fazer magia era vista com desconfiança, mesmo que fosse apenas uma personagem de ficção. Morgana le Fay, por exemplo, é ora uma bruxa, ora uma fada (por isso le Fay) das literaturas francesa, italiana e inglesa do século XVIII, onde seria irmã ou meia-irmã do rei Arthur e aprendiz de Merlin. Após a Inquisição, novas versões da lenda arturiana passaram a retratá-la de maneira negativa. Em Le Morte d'Arthur, de Thomas Malory, Morgana tenta destruir o irmão e toda a sua corte.
Também quando a caça às bruxas começava a perder força - quando o estereótipo já estava bem definido e havia vasta literatura sobre o assunto -, os colonizadores ingleses levaram o pânico para a América do Norte, onde, em 1692, ocorreu o processo contra as Bruxas de Salém (Massachusetts). Foram cerca de 300 acusados de práticas infames e 19 enforcados.
• Por que as bruxas eram mulheres?
Para cada homem acusado durante o período mais intenso da caça às bruxas, três mulheres eram condenadas. Do ponto de vista da época, a história bíblica de Adão e Eva mostra claramente que as mulheres eram responsáveis por todos os pecados existentes no mundo - e, portanto, física, intelectual e moralmente mais fracas, vingativas, propensas à mentira e suscetíveis à tentação do Diabo.
A diferença entre uma parteira e uma bruxa, por exemplo, já era pequena: quando um recém-nascido morria, os pais podiam acusá-la de bruxaria. Idosas solteiras ou viúvas eram as mais acusadas, embora também houvesse jovens atraentes e abastadas condenadas à fogueira. Em uma sociedade controlada por homens, mulheres que não estivessem sob o jugo de um pai ou marido eram, no mínimo, suspeitas. O julgamento podia constituir uma maneira conveniente de expurgar esses membros desagradáveis da comunidade.
Fontes
Brasil Escola - Bruxas
O Manual do Bruxo - um dicionário do mundo mágico de Harry Potter, Allan Zola Kronzek e Elizabeth Kronzek
Colaboradores
Linniker F. de Oliveira sugeriu o tema da postagem
bem interessante, parabens
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