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Malleus Maleficarum

Não deixarás viver uma feiticeira.
Êxodo 22:18

• Em nome de Deus
Divisão da Igreja Católica encarregada de localizar e exterminar as heresias (do latim hereticus, escolha), a Santa Inquisação - ou Tribunal do Santo Ofício - promoveu uma histérica e desenfreada caça às bruxas em toda a Europa de meados do século XV ao fim do século XVII.

Apesar de nunca ter aprovado os curandeiros, magos e adivinhos que faziam parte das comunidades, durante estes mais de 250 anos, milhares de homens e mulheres de todas as idades e camadas sociais foram torturados e condenados à fogueira.
À medida que a histeria aumentava com a ajuda da recém-criada imprensa, autoridades católicas e protestantes convocavam todo e qualquer cidadão temente a Deus a denunciar o maior número de suspeitos possível, gerando assim um devastador efeito dominó. Estudiosos acreditam que, em 1589, na pequena vila alemã de Quedlinburg, 133 acusados de bruxaria tenham sido executados em um único dia.

• O Martelo das Feiticeiras

Em 1486, os alemães Heinrich Kramer e James Sprenger - inquisidores profissionais e membros da Ordem Dominicana - desenvolveram o que viria a ser o segundo livro mais vendido do mundo durante quase dois séculos, perdendo apenas para a própria Bíblia: o Malleus Maleficarum, um amplo guia para identificar, perseguir e punir os hereges (ou seja, aqueles que escolheram o caminho das trevas).
Sucesso imediato entre religiosos, legisladores e todos aqueles que sabiam ler, o Malleus Maleficarum (em latim, Martelo das Feiticeiras) foi o grande responsável por perpetuarem-se os esteriótipos que condenaram à morte mais de 30 mil falsos acusados de bruxaria que não possuíam quaisquer poderes mágicos para protegê-los.
Apresentado ao clero da Faculdade de Teologia da Universidade de Colônia no ano de sua publicação, a obra não só foi rejeitada, como também condenada e, seus autores, declarados imorais e antiéticos.
No entanto, Kramer e Sprenger incluíram, nas edições posteriores de 1487, uma falsa nota de apoio da Universidade - suposta aprovação esta que contribuiu muito para sua gigantesca popularidade. Sancionado como instrumento no combate às heresias pelo papa Inocêncio VIII, o livro foi promulgado através da bula papal Summis Desiderantes Affectibus ao fim de 1486.
Ainda que posteriormente incluído na Lista de Obras Proibidas (do latim Index Librorum Prohibitorum), o Malleus ganhou mais de 13 novas edições apenas entre os anos de 1487 e 1520.
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• Composição e Organização
Dividido em três seções principais, o Malleus assegura seus leitores de que denunciar e destruir os servos de Satã que habitam sobre a face da Terra é a única maneira de reagir à ameaça silenciosa da bruxaria contra a cristandade e diz que os juízes não precisam se preocupar muito com o veredicto, já que Deus jamais permitiria que uma alma inocente fosse condenada.
Há pouco material original no livro, uma vez que este resulta de crenças e práticas há muito existentes e não passa de uma descarada colagem de obras anteriores - tais como Directorium Inquisitorum (1376), de Nicolau Aymerich, e Formicarius (1435), de Johannes Nider.
Toda a bruxaria nasce da luxúria carnal
- que, nas mulheres, é insaciável.

•••••••A primeira seção explica que a bruxaria, assim como a existência de Satã e seus demônios, é uma realidade invisível, porém tangível; esclarece também que a sexualidade é o mais eficiente multiplicador dos poderes do Senhor do Prazer, afirmando ainda que este tende a corromper jovens e belas mulheres.
Estas, moral e intelectualmente inferiores aos homens, pagariam com o corpo a entrada no reino do Inferno e comprariam seus negros poderes através de uma prostituição demoníaca. Seus autores declaram, erroneamente, que a palavra femina (em latim, mulher) é uma derivação dos termos e minus - ou seja, infiel.
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Os homens, por sua vez, tornariam-se bruxos se permitissem o adultério por parte de suas esposas, possibilitando e consentindo com que o santo matrimônio fosse corrompido pelo pecado da luxúria.

•••••••Ainda mais sensacionalista, a segunda seção fornece detalhes assustadores de como o sexo era um mero processo através do qual firmavam-se pactos satânicos, os quais seriam assinados pela bruxa com seu próprio sangue; descreve sacrifícios humanos, técnicas de recrutamento e analisa as formas de bruxaria existentes e suas manifestações.
A Marca da Bruxa, por exemplo, seria a cicatriz deixada pelas garras de Satã ou por sua língua ao percorrer o corpo de seu servo - além de prova cabal de heresia. Qualquer verruga, marca de nascença ou mancha particularmente insensível sobre a pele servia.

•••••••Exclusivamente jurídica, a terceira seção é um guia prático para consulta de magistrados a serviço da Santa Inquisição. Instrui os juízes a enganar os acusados, prometendo-lhes misericórida pela confissão. Na Inglaterra e na Escandinávia, onde a tortura era ilegal, auxilia a formular acusações e a interrogar testemunhas; já em países como Alemanha, França e Suíça, refere-se aos mais hediondos métodos de tortura como algo natural e altamente recomendável.

Sob o efeito de dores agudas e intensas, o acusado quase sempre confessava tudo o que o inquisdor quisesse: adorar Satã, invocar demônios e mortos em cemitérios, utilizar-se de vassouras voadoras para ir aos encontros de meia-noite, criar ferimentos em animais e destruir plantações.

• A voz da Razão

Dentre os milhares de supostos hereges condenados à morte, 85% eram mulheres.
Graças ao ceticismo religioso trazido pela revolução científica que contagiou toda a Europa durante o século XVIII, as erupções de violência tornaram-se menos frequentes. Com o passar dos anos, as leis que proibiam a prática de bruxaria foram revogadas e as mais poderosas e influentes autoridades clericais deixaram de patrocinar os julgamentos.
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Fontes
O Manual do Bruxo - um dicionário do mundo mágico de Harry Potter, Allan Zola Kronzek e Elizabeth Kronzek

Um comentário:

  1. O artigo já começa bem, fazendo uma citação bíblica. Seu desenvolvimento é não menos excelente, descrevendo um horror que esquecemos com facilidade demasiada, principalmente os católicos mais ferrenhos. Será que não percebem que este mesmo livro antiquíssimo que tomam por guia (a Bíblia), foi o livro que fundamentou semelhantes selvagerias? Pois a superstição é cega, pode alimentar tudo, amor e ódio, ficção e fato, não se pode deixar que ela floresça. A superstição alimentou as fogueiras. Não deixa de ser fascinante a mente humana, não? E a Inquisição foi algo interessante, até elucidativo para quem sabe interpretar. Lindo artigo Luciana... (Léo)

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