COMENTÁRIOS ANÔNIMOS

Em função do grande número de spam e mensagens ofensivas,
comentários anônimos infelizmente não são mais permitidos neste blog.

A respeito das críticas quanto à credibilidade das informações em nossos
artigos, vale notar que todos possuem referências bibliográficas.
Nosso principal objetivo é abordar assuntos que carecem de fontes seguras
na internet e ajudar na pesquisa de quem busca por eles.

O Noivado do Sepulcro

de Soares de Passos

Balada
Vai alta a lua! Na mansão da morte
Já meia-noite com vagar soou;
Que paz tranquila; dos vaivéns da sorte
Só tem descanso quem ali baixou.

Que paz tranquila! Mas eis longe, ao longe
Funérea campa com fragor rangeu;
Branco fantasma semelhante a um monge
Dentre os sepulcros a cabeça ergueu.

Ergueu-se, ergueu-se! Na amplidão celeste
Campeia a lua com sinistra luz;
O vento geme no feral cipreste,
O mocho pia na marmórea cruz.

Ergueu-se, ergueu-se! Com sombrio espanto
Olhou em roda... não achou ninguém...
Por entre as campas, arrastando o manto,
Com lentos passos caminhou além.

Chegando perto duma cruz alçada,
Que entre os ciprestes alvejava ao fim,
Parou, sentou-se com a voz magoada
Os ecos tristes acordou assim:

- "Mulher formosa, que adorei na vida,
E que na tumba não cessei de amar,
Por que atraiçoas, desleal, mentida,
O amor eterno que te ouvi jurar?

Amor! Engano que na campa finda,
Que a morte despe da ilusão falaz:
Quem dentre os vivos se lembrara ainda
Do pobre morto que na terra jaz?

Abandonado neste chão repousa
Há já três dias, e não vens aqui...
Ai quão pesada me tem sido a lousa
Sobre este peito que bateu por ti!

Ai quão pesada me tem sido!" e em meio
A fronte exausta lhe pendeu na mão,
E entre soluços arrancou do seio
Fundo suspiro de cruel paixão.

- "Talvez que rindo dos protestos nossos,
Gozes com outro d'infernal prazer;
E o olvido cobrirá meus ossos
Na fria terra sem vingança ter!"

- "Ó nunca, nunca!" de saudade infinita
Responde um eco suspirando além...
- "Ó nunca, nunca!" repetiu ainda
Formosa virgem que em seus braços tem.

Cobrem-lhe as formas divinais, airosas
Longas roupagens de nevado cor;
Singela c'roa de virgíneas rosas
Lhe cerca a fronte dum mortal palor.

- "Não, não perdeste meu amor jurado:
Vês este peito? Reina a morte aqui...
É já sem forças, ai de mim, gelado,
Mas ainda pulsa com amor por ti.

Feliz que pude acompanhar-te ao fundo
Da sepultura, sucumbindo à dor:
Deixei a vida... que importava o mundo,
O mundo em trevas sem a luz do amor?

Saudosa ao longe vês no céu a lua?"
- "Ó vejo sim... recordação fatal"
- "Foi à luz dela que jurei ser tua
Durante a vida, e na mansão final.

Ó vem! Se nunca te cingi ao peito,
Hoje o sepulcro nos reúne enfim...
Quero o repouso do teu frio leito,
Quero-te unido para sempre a mim!"

E ao som dos pios co cantor funéreo,
E à luz da lua de sinistro alvor,
Junto ao cruzeiro, sepulcral mistério
Foi celebrado, d'infeliz amor.

Quando risonho despontava o dia,
Já desse drama nada havia então,
Mais que uma tumba funeral vazia,
Quebrada a lousa por ignota mão.

Porém mais tarde, quando foi volvido
Das sepulturas o gelado pó,
Dois esqueletos, um ao outro unido,
Foram achados num sepulcro só.

Fontes
Embriagai-vos! Blog

Um comentário:

  1. Mais belo poema que já tive a honra de ler. Vindo de fontes preciosas como a sua ;)

    ResponderExcluir