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Trovadorismo - 1ª Época Medieval

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Trovadorismo: o estopim da poesia.


O Trovadorismo foi um movimento sociocultural que ocorreu durante a Idade Média (1189/1198 a 1427/1434, não se sabe bem ao certo) em Portugal.
O regime político deste período era o feudalismo, ou seja, um sistema de poder baseado na posse de terra; dominava a economia-social do país, onde a sociedade apresentava-se na seguinte ''pirâmide de estrutura'' que se dividia na exata ordem vertical: nobreza, clero e povo.
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A religião servia de alicerce para a cultura deste período, assim como a vida literária de suporte para o exercício da espiritualidade. Todas as escolas do território eram destinadas ao trabalho de preparação para o futuro do clero ou à instituição de noviços. É o que podemos chamar de Teocentrismo: onde Deus é o centro e a medida de todas as coisas.

• O declínio do feudalismo
Com o declínio do feudalismo, todo o panorama cultural do momento sofre grandes mudanças: cidades se expandem, aumenta o número de universidades e a arte começa a expressar cantores épicos, destacando assim o gosto pela literatura heróica (na prosa medieval portuguesa, há o predomínio das novelas de cavalaria onde se destaca o heroísmo de influência religiosa e feudal). A partir de então surgem os trovadores, e poemas são apenas esboços para o ato de cantar.

• Características literárias
- O verso é uma forma de ritmar a fala, o que facilita a sua memorização. Por isso as literaturas românticas medievais nascem através da expressão oral. Os "poetas-cantores" podem ser classificados em três tipos:

•••••••Trovador - artista, fidalgo decaído.
•••••••Jogral - poeta popular e humilde que cantava composições alheias.
•••••••Segrel - um tipo de compositor que cantava em cortes.

- O galego-português é a língua destas poesias, porque os jograis vinham de Galiza, onde era desenvolvida uma intensa cultura devido à peregrinação de romeiros a Santiago da Compostela.

- Os mais antigos textos literários em Língua Portuguesa são as composições poéticas reunidas nos Cancioneiros desde o século XII - apesar de anteriormente a esta época já existirem textos escritos.

- Três Cancioneiros são conhecidos, coletâneas de autores diversos em língua galego-portuguesa:

•••••••Cancioneiro da Ajuda - é o mais antigo e contém 64 poesias, sendo todas cantigas de amor.
•••••••Cancioneiro da Biblioteca Nacional (antigo Colocci Brancutti) - cópia italiana do século XVI, com o original mutilado, possue todos os gêneros de composição.
•••••••Cancioneiro da Vaticana - também com seu original mutilado (restam apenas cópias), contém também todos os tipos de cantiga.
- O mais antigo trovador é João Soares de Paiva, embora oprimeiro documento da literatura portuguesa pertença a Paio Soares de Taveirós - autor da Cantiga da Ribeirinha (ou Cantiga da Guarvaia, datada de 1189 ou 1198), dedicada a Dona Maria Pais Ribeiro.
.- Podemos citar outros nomes como D. Dinis (cerca de 140 cantigas); João Garcia de Guilhade (54 composições); Martin Codax (7 cantigas de amigo); Afonso Sanches, filho de D. Dinis; João Zorro e Sires Nunes.
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- Concluímos que os Cancioneiros não fazem parte das coleções de poesia nacional, mas sim da poesia peninsular em língua portuguesa sobre os mais diferentes temas.

- As poesias são dividas em dois gêneros: lírico (cantigas de amor e cantigas de amigo) e satírico (cantigas de escárnio e cantigas de maldizer).

- O instrumento usado para acompanhar as cantigas de amor e de amigo é chamado lira, e é por isso que o gênero denomina-se lírico.

• Cantigas de amigo

Eu-lírico feminino, sensual e popular. Lamenta a ausência de seu amigo (namorado). Eram apresentadas nas praças e locais em que se reuniam os populares. As espécies de cantigas de amigo podem se dividir em: cantiga de paralelismo puro, cantiga de meestria, bailias ou bailadas, cantiga de romaria.
Exemplo de uma cantiga de amigo, de D. Dinis:

- ai, flores, do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo?
Ai, Deus, e u é?
ai, flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
Ai, Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,

Aquel que mentiu do que pôs comigo?
Ai, Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
Aquel que mentiu do que me a jurado?
Ai, Deus, e u é?
- Vós preguntades pelo voss'amigo?
E eu ben vos digo que é san' e vivo.
Ai, Deus, e u é?
Vós preguntades pelo voss' amado?
E eu ben vos digo que é viv' e sano.
Ai, Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é san' e vivo,
e sera vosc' ant' o prazo saído.
Ai, Deus, e u é?
E ben vos digo que é viv' e sano,
e será vosc' o prazo passado.
Ai, Deus, e u é?

Explicações:pino - pinheiro
u - onde
pôs - combinou
san'(sano) - são
vosc'(vosco) - convosco
ant' o prazo saído - antes do prazo terminado

• Cantigas de amor
Eu-lírico masculino, prestando ''vassalagem amorosa'' para uma mulher, à senhora, amor cortês. Era apresentado nas cortes. Espécies de cantigas de amor: pastorela, alba, canção de tear, pranto, despedida ou descordo.
Exemplo de uma cantiga de amor, de D. Dinis:

Hun tal home sei eu, ai, ben talhada,
que por vós ten a sa morte chegada;
vedes quem é e seed' en nembrada:
eu, mia dona!
Hun tal home sei eu que preto sente
de si morte chegada certamente;
vedes quem é e venha-vos em mente:
eu, mia dona!
Hun tal home sei eu, aques't oíde:
que por vós morr'e e vo-lo en partide;
vedes quem é, nom xe vos obride:
eu, mia dona!

Explicações:ben talhada - formosa, elegante
seed' en nembrada - lembrai-vos disso
preto - perto
venha vos en mente - tende em mente
aques't oíde - ouvi isso
vo-lo en partide - desejais que ele parta
non xe vos obride - não vos olvideis, não vos esqueçais
obride - imperativo de obridar, hoje olvidar (esquecer)
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• Cantigas de escárnio e maldizer
•••••••Escárnio - crítica pessoal e/ou social de forma indireta (criticam-se instituições, cargos, posições sociais e não uma pessoa em especial), irônica e satírica.
.•••••••Maldizer - crítica pessoal e/ou social de forma direta.
Exemplo de cantiga de escárnio, de João Garcia de Guilhade:

Ai, dona fea, foste-vos queixar
porque vos nunca louv' en meu trobar,
mais ora quero fazer un cantar,
en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!
Ai, dona fea, se Deus me perdon,
e pois havedes tan gran coraçon
que vos eu loe en esta razon,
vos quero já loar toda via;
e vedes qual será a loaçon:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos loei
en meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já hun bon cantar farei,
en que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha sandia!
Explicações:mais ora - mas agora
havedes tan gran coraçon - tendes tanta vontade
en esta razon - deste modo
pero - ainda que
Exemplo de cantiga de maldizer, de Diego Pezelho:

Meu senhor arcebispo, and' eu escomungado
porque fiz lealdade; enganou-me o pecado!
Soltade-m', ai, senhor, e jurarei, mandado,
que seja traëdor.
Se traiçon fezesse, nunca vo-la diria;
mais pois fiz lealdade, vel por Santa Maria,
soltade-m', ai, senhor, e jurarei, mandado,
que seja traëdor.
Per mia malaventura tive hun en Sousa
e dei-o a seu don' e tenho que fiz gran cousa.
Soltade-m', ai, senhor, e jurarei, mandado
que seja traëdor.
Por meus negros pecados tive hun castelo forte
e dei-o a seu don', e hei medo da morte.
Soltade-m', ai, senhor, e jurarei, mandado
que seja traëdor.
Explicações:
soltade-m' - absolvei-me
mais - mas
vel - o termo vel tem em português arcaico um sentido mais ou menos exclamativo, difícil de trazudir: ''oh! ai! ah!''
tenho que fiz gran cousa - e parece-me ter cometido um ato grave.

Autora
Carolina Olgado, nossa mais nova colaboradora
Fontes
Assim Se Escreve... Gramática - Assim Escreveram... Literatura, Odilon Soares Leme, Stella Maria Garrafa Serra e José Albetoni de Pinho

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