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Desencanto

de Manuel Bandeira

Finados IX, de Renato Ribeiro
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.

Fontes
As Tormentas

Um comentário:

  1. Que poema! Devo confessar que os poemas do Bandeira que não têm rimas e abusam do verso livre (não só ignorando a métrica, o principal é que não se preocupam em nada com a extensão dos versos) me chateiam um pouco. Mas "Desencanto" é um lindo poema, realmente admirável, até fico com vontade de procurar um livro de poemas dele. Uma pena que haja tal dificuldade para se encontrar obras do gênero, nem mesmo os poetas mais famosos ganham a divulgação merecida, seus nomes são lugares-comum, seus livros são quase "mitológicos", ninguém acha! Basta procurar um simples Drummond para confirmar...

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