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A Peste Negra no Século XIV

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A peste bubônica, causada pela bactéria Yersinia pestis, passou a ser chamada de Peste Negra (ou Black Death, em inglês) a partir de meados do século XIV, em um dois mais assustadores episódios da história da humanidade. A bactéria, comum a roedores como esquilos e principalmente ratos, também pode ser transmitida através de suas pulgas (Xenopsylla cheopis), que se alimentam de seu sangue contaminado.
Hoje, sabemos que a doença leva de dois a cinco dias para se manifestar; conhecemos a sua causa e o que fazer para tratá-la. Mas, àquela época, mesmo que soubessem a origem da peste, os médicos não teriam muito o que fazer.

• Contexto Histórico

Durante o feudalismo medieval, a ocupação de solos inférteis devido à escassez de terras (vale lembrar que a terra era a principal riqueza desse período) já afetava a produção de alimentos e o trabalho agrícola. Com isso, os preços dispararam e a fuga dos camponeses em busca de trabalho nas florescentes cidades levou à ascensão da burguesia.

Mas as cidades medievais, embora simbolizassem a liberdade econômica e intelectual que abriu caminho para o movimento humanista, eram também o centro do problema: faltava água potável, não havia saneamento básico e o lixo acumulava-se pelas ruas, fazendo com que, em dias mais quentes, moscas e outros insetos formassem verdadeiras nuvens. O mau cheiro era insuportável e as doenças de pele, infecções e epidemias muito comuns.

• Origem

A peste negra surgiu na Mongólia em 1346 e não se sabe exatamente como ou por quê. O fato é que não demorou muito para que ela se espalhasse por todo o continente asiático: da China, onde morreram cerca de 60 milhões de pessoas, através das rotas de comércio da seda, chegou ao sul da Itália em 1347 e encontrou todas as condições favoráveis possíveis. Enfraquecida pela fome, sem defesas contra a nova doença e com as pessoas vivendo muito próximas umas às outras nas cidades, a população européia logo adoeceu.


O Enterro das Vítimas da Peste no Verão de 1349, iluminura do manuscrito de Gilles de Muisit

Além da peste bubônica, outras duas variantes da doença coexistiram: a pneumônica e a septicêmica. A pneumônica, ainda mais letal do que a bubônica, leva à morte em um ou até dois dias e é transmitida através do espirro e da tosse. O ar viciado propagava miasmas (gases tóxicos liberados pelos corpos em decomposição) e os médicos, sem saber a verdadeira causa da epidemia, recomendavam a queima de ervas aromáticas pelas ruas. Já a septicêmica, não menos terrível, ataca o sistema sanguíneo e mata por infecção generalizada muito rapidamente.

• Com a Peste no corpo

Botões (bulbos) negros, vulgarmente chamados de tumores, se espalhavam pelo pescoço, virilha e axilas e podiam crescer ou inchar até ficarem do tamanho de um ovo de galinha. Em seguida, manchas roxas ou negras - às vezes poucas, às vezes muitas - apareciam por todo o corpo do doente. Depois que os primeiros tumores apareciam as vítimas morriam em até uma semana.
Embora a grande maioria morresse após três dias sem manifestar quaisquer sintomas, sangramento nasal, dores de cabeça ou no corpo, febre alta, delírios, vertigem e, em estágios mais greves, diarreia, eram morte certa.

• Caos


Ilustração das ruas de uma Itália devastada pela Peste em 1348

O ano de 1348 foi o mais difícil para a Europa, que viu quase dois terços de sua população - mais de 25 milhões de pessoas - serem dizimados. Nas cidades, onde houve maior índice de mortalidade, multiplicavam-se as escolas: saber ler e calcular era fundamental à prática do comércio e, por mais que fosse responsável por todos os centros de ensino, as explicações da Igreja para as desigualdades sociais já não satisfaziam ninguém.
Assim, a Igreja dizia que a epidemia era um castigo, uma manifestação da ira divina contra a ascensão da classe burguesa, a usura (capitalismo, lucro financeiro) e a difusão do conhecimento. Flagelantes iam de uma região a outra em peregrinação, mutilando-se com varas e chicotes numa tentativa desesperada de agradar ao Deus que os teria amaldiçoado com a peste devido à sua falta de fé e pecados contra a Igreja.

Não foram poucas as vezes em que a histeria voltou-se contra os leprosos e os judeus, que foram acusados de envenenar os poços dos cristãos. Em Estrasburgo (França), 16 mil judeus foram massacrados. O caos era tamanho que muitos dos mortos pela peste só eram descobertos dias depois, quando os vizinhos sentiam o cheiro do cadáver em decomposição. Os corpos eram abandonados nas ruas e o maior problema era encontrar onde enterrá-los: os cemitérios estavam cheios e não havia mais madeira para fabricar os caixões.

• A Peste em números

Na Bélgica, morriam até 600 pessoas por dia. No convento de Montpellier (França), onde a higiene era precária, todos os 45 franciscanos morreram.
Só em Londres, foram mais de 80 mil mortes. Depois de 1350, a peste ainda atingiu a Inglaterra outras seis vezes. Em 1665, um novo surto aterrorizou o país e até mesmo a Universidade de Cambridge foi fechada.

• Curiosidade

A Peste Negra inspirou o italiano Giovanni Boccaccio a escrever The Decameron, onde sete homens e três mulheres fogem para o campo. Na introdução, ele narra os efeitos da epidemia na cidade de Florença em 1348. 

Fontes
EyeWitness to History.com - The Black Death, 1348
Isaac Newton e Sua Maçã, Kjartan Poskitt
Nova Enciclopédia Ilustrada Ana Maria - volume 14

4 comentários:

  1. Fiquei animado quando vi esta nova publicação. Sempre tive curiosidade sobre os detalhes da peste. Vê-se muito nos períodos de escuridão, por mais que pareça isto paradoxal. A escuridão dos tempos de crise é um prenúncio da escuridão a que estamos predestinados no fim. Uma curiosidade: nos tempos da peste as pessoas assaltavam as caroças, os viajantes, e devoravam-nos. Temos que nos lembrar que algo como a peste desarticula a atividade produtiva local, gerando assim outros tipos de flagelos, como a fome generalizada, o êxodo populacional, o canibalismo, a queda de todos os valores. É um momento para o homem provar seu próprio caráter, sua força moral. A sociedade colapsa, o homem selvagem pode ser moral fora dos confortos citadinos? Belo artigo Luciana, agora que comecei a ler o blog parece que não paro... (Léo)

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  2. Respostas
    1. Pra vc neah

      N deveria ser o que tu procurava!

      Mas para muita gente serviu!

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  3. QUASE PERFEITO
    VAI ME AJUDAR NO TRABALHO DE Hist. Sobre o séc XIV

    Obgd!

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