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Tarde de Outono

de Álvares de Azevedo


O Poeta

Oh! musa, por que vieste,
E contigo me trouxeste
A vagar na solidão?
Tu não sabes que a lembrança
De meus anos de esperança
Aqui fala ao coração?

A Saudade

De um puro amor a lânguida saudade
É doce como a lágrima perdida
Que banha no cismar um rosto virgem.
Volta o rosto ao passado, e chora a vida.

O Poeta

Não sabes o quanto dói
Uma lembrança que rói
A fibra que adormeceu?...
Foi neste vale que amei,
Que a primavera sonhei,
Aqui minha alma viveu.

A Saudade

Pálidos sonhos do passado morto
É doce reviver mesmo chorando.
A alma refaz-se pura. Um vento aéreo
Parece que de amor nos vai roubando.

O Poeta

Eu vejo ainda a janela
Onde à tarde junto dela
Eu lia versos de amor...
Como eu vivia d'enleio
No bater daquele seio,
Naquele aroma de flor!

Creio vê-la ainda formosa,
Nos cabelos uma rosa,
De leve a janela abrir...
Tão bela, meu Deus, tão bela!
Por que amei tanto, donzela,
Se devias me trair?

A Saudade

A casa está deserta. A parasita
Das paredes estala a negra cor.
Os aposentos o ervaçal povoa.
A porta é franca... Entremos, trovador!

O Poeta

Darramai-vos, prantos meus!
Dai-me prantos, ó meu Deus!
Eu quero chorar aqui!
Em que sonhos de ebriedade
No arrebol da mocidade
Eu nesta sombra dormi!

Passado, por que murchaste?
Ventura, por que passaste
Degenerando em saudade?
Do estio secou-se a fonte,
Só ficou na minha fronte
A febre da mocidade.

A Saudade

Sonha, poeta, sonha! Ali sentado
No tosco assento da janela antiga,
Apóia sobre a mão a face pálida,
Sorrindo - dos amores à cantiga.

O Poeta

Minha alma triste se enluta,
Quando a voz interna escuta
Que blasfema da esperança.
Aqui tudo se perdeu,
Minha pureza morreu
Com o enlevo de criança!

Ali, amante ditoso,
Delirante, suspiroso,
Eflúvios dela sorvi.
No seu colo eu me deitava...
E ela tão doce cantava!
De amor e canto vivi!

Na sombra deste arvoredo
Oh! quantas vezes a medo
Nossos lábios se tocaram!
E os seios onde gemia
Uma voz que amor dizia,
Desmaiando me apertaram!

Foi doce nos braços teus,
Meu anjo belo de Deus,
Um instante do viver!
Tão doce, que em mim sentia
Que minh'alma se esvaía
E eu pensava ali morrer!

A Saudade

É berço de mistério e d'harmonia
Seio mimoso de adorada amante.
A alma bebe nos sons que amor suspira
A voz, a doce voz de uma alma errante.

Tingem-se os olhos de amorosa sombra,
Os lábios convulsivos estremecem,
E a vida foge ao peito... apenas tinge
As faces que de amor empalidecem.

Parece então que o agitar do gozo
Nossos lábios atrai a um bem divino:
Da amante o beijo é puro como as flores
E a voz dela é um hino.

Dizei-o vós, dizei, ternos amantes,
Almas ardentes que a paixão palpita,
Dizei essa emoção que o peito gela
E os frios nervos num espasmo agita.

Vinte anos! como tens doirados sonhos!
E como a névoa de falaz ventura
Que se estende nos olhos do poeta
Doira a amante de nova formosura!

O Poeta

Que gemer! não me enganava!
Era o anjo que velava
Minha casta solidão?
São minhas noites gozadas,
As venturas tão choradas
Que vibram meu coração?

É tarde, amores, é tarde;
Uma centelha não arde
Na cinza dos seios meus...
Por ela tanto chorei,
Que mancebo morrerei!...
Adeus, amores, adeus!
.

Um comentário:

  1. Adorei o post com a obra do Alváres de Azevedo...Eu adoro

    Indiquei um selo pro seu blog...Passa la no meu para pegar...

    Valeuuu

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