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O papel da mulher na Igreja Cristã


Faça-se em mim segundo a tua palavra.
Lucas, 1:38


Virgem Maria: ideal feminino cristão
que procura transmitir às mulheres
o exemplo de uma vida sem relevo que encontrou
no servir a Deus a sua glória.

A fé cristã ensina que Jesus Cristo foi morto em favor dos homens, que haviam perdido a graça de Deus e se distanciado dele no início da criação do mundo. Para essa doutrina baseada no patriarcado, a mulher é um reflexo secundário do homem e também responsável pela queda da humanidade no pecado. Como castigo, é condenada a sofrer as dores do parto e a dominação masculina: na infância, o pai; na vida adulta, o marido ou os irmãos; na velhice, os filhos.

• Idade Média

Antes de mais nada, as mulheres eram perigosas e deviam ser vigiadas. Os maridos tinham o direito de castigá-las sempre que considerassem necessário - acreditava-se, inclusive, que uma surra de vez em quando poderia fazer muito bem.

Para a igreja, o casamento era um mal menor. A união conjugal era tolerada para a perpetuação da espécie humana, e o sexo - mesmo entre marido e mulher - como fonte de prazer era duramente condenado. Nas palavras de São Paulo, "mais vale casar do que arder".

Para os cátaros, povo herético originário do sul da França cujo nome significa puros, a castidade era uma obrigação absoluta. A mulher era um perigo permanente, e se fosse tocada - mesmo involuntariamente - expunha o perfeito a três dias de jejum. O casamento era tido como um estado satânico porque regularizava o crime da carne e tinha como consequência natural a procriação. A concubina era mais aceita socialmente do que a mulher casada, fato que levou os cátaros à acusação de promiscuidade.

• Idade Contemporânea

Talvez em resposta à revolução sexual feminina ocorrida após o advento da pílula anticoncepcional e à crescente participação da mulher no mercado de trabalho e em outras esferas da sociedade, Josemaría Escrivá de Balaguer, fundador da Opus Dei, afirma em A mulher na vida do mundo e da Igreja (1968) que "a atenção prestada à família constituirá sempre, para a mulher, a sua maior dignidade". Segundo ele, conquistar a igualdade com o homem seria não uma aquisição, mas uma perda para a mulher.
Balaguer dizia ainda que as mulheres são culpadas por 80% das infidelidades dos maridos porque não sabem conquistá-los dia após dia, e que não há desculpa - trabalho, vida própria - para que não se ocupem primeiramente do lar.

• Repressão sexual

Como supremo legislador da Igreja, o papa Pio XII (1939-1958) permitiu apenas alguns processos naturais (entre os quais não figura a pílula) para evitar a concepção em casos isolados e difíceis. Agir de modo diferente, portanto, é uma desobediência grave ao Santo Padre.
Para Balaguer, "não haverá quem se sinta verdadeiro filho de seus pais se puder vir a pensar que veio ao mundo contra a vontade deles, que não nasceu de um amor limpo, mas de uma imprevisão ou de um erro de cálculo." E mais: o uso de meios anticoncepcionais provoca destruição do amor conjugal (porque marido e mulher olham um para o outro não como companheiros, mas como cúmplices), infelicidade, infidelidade e desequilíbrios espirituais e mentais.

Fontes
A mulher na vida do mundo e da Igreja, Josemaría Escrivá
Heresias Medievais, Nachman Falbel
História, Renato Mocellin
Nova Enciclopédia Ilustrada Ana Maria - volume 3